O curioso

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

  Esperar o ônibus, sentar ao ar livre, tranquilamente na praça pública, pena que os bancos de lá não são individuais. Adoro ler, era o que eu pretendida fazer ao me sentar, só não contava com a presença de um ser, já chegou esbarrando em mim e tropeçando no meu pé, com fones de ouvido nem se preocupou em se desculpar sentou ao meu lado.
  Indignado, meus olhos a atacaram na espera de um olhar que ao menos mostrasse que ela me viu e que não era sua intenção me incomodar. Não obtive resposta então o olhos de susto deram espaço para os de observador.
  Já não podia prestar atenção em minha leitura, a música que ela ouvia estava em um volume muito alto, a praça toda podia ouvir, como o ônibus que eu pegaria só chegava daqui a uma hora resolvi observa-la, discretamente, parecia desesperada e um pouco impaciente, olhava para todos os lados.
  Durante um certo tempo ficou olhando em minha direção, diversas vezes, fiquei um pouco constrangido e fixei o meu olhar no livro, é certo que eu não estava mais lendo.
  Esse certo tempo parecia uma eternidade, comecei a pensar que meu semblante a agradava. Vaidade minha, só depois quando tive coragem de encara-la constatei que o seu olhar transpassava o meu ser e o que ela fitava era a loja de relógios que tinha do outro lado da rua, talvez tentando ver as horas.
  A curiosidade era tamanha que nem se quer me preocupava em disfarçar virando as paginas do livro, quanto mais o tempo passava mais impaciente ela parecia, sua mão sobre o banco fazia um movimento repetitivo batendo os dedos sobre a madeira no compasso da música talvez, ou no compasso de seu pensamentos, não sei ao certo.
  E meu ônibus chegou, fiquei diante de um grande dilema para mim, chegar em casa no horário ou ver desfecho de minha observação, com certeza eu nunca mais a veria, não podia perder aquela oportunidade. A moça se levantou deu quatro passos vagarosos, respirou fundo e bufou, quase me levantei junto pra poder ver melhor, ao fechar meu livro ela  bateu as mãos nas coxas, se sentou, apoiou o rosto na mão e o cotovelo nos joelhos.
  Perdi o ônibus. Sua perna balançava fazendo com que seu pé batesse no pé do banco. Tudo bem, eu não queria mais ler, só teria condução daqui a mais uma hora, queria saber o que  a moça estava esperando mas, por favor ela já estava abusando, foi quando um papel caio do meio do bolso de sua bolsa, que estava quase vomitando de tanto ser chacoalhada junto a perna da moça.
  Ao fazer a gentileza de pega-lo finalmente recebi um olhar, de canto, acho que vi até um sinal de um leve sorriso, que se transformou em uma feição de "Puta Merda!" e a moça pegou o papel de minha mão e saiu em disparada como seu tivesse dado o sinal de largada para a corrida. Entrou num táxi que estava estacionado e foi embora.
 Poxa ela num podia ter feito isso três minutos antes e eu poderia ter pego o meu ônibus, agora só me resta esperar mais cinquenta e cinco longos e intermináveis minutos desapontado e  acompanhado apenas por minha curiosidade.

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