Conto gótico III - Ela o deixou

sexta-feira, novembro 12, 2010

 
  Estavam eles unidos pelo abismo que até outro dia iria separa-los, cessou a chuva mas a lua já não brilhava, nem tinha estrelas no céu, apenas uma leve brisa que soprava as faces desfalecidas deles e uma farta poça de sangue, a lamparina ainda estava acesa, iluminava seus corpos o dele mais pálido do que o normal um olhar fixo, seu coração já não pulsava mais, ao contrario do dela que ainda que fraco palpitava lentamente o suficiente para que ela rapidamente abrisse os olhos, a brisa entrou nas suas ventas preenchendo seu corpo de vida.
  Sua primeira visão foi a lua mesmo que ofuscada, sentia uma insuportável dor em seu crânio, levantou-se e ao olhar para o lado viu aquele violão, estranho pois o reconheceu, foi tateando, quis vê-lo de perto para ter certeza. Sim era aquele que a encantava, era de seu amado.
  Uma pergunta veio-lhe a mente: Por que ele estaria ali? Segurou firmemente o violão em uma e aquela lamparina na outra na outra mão, foi ai que percebeu que pisava no sangue, já com lágrimas nos olhos seguiu iluminando e logo viu que ele estava lá, seu Amado Ruivo a encontrou.
  Logo a lamparina e o violão foram ao chão, num gesto de desespero ela o abraçava como se esperasse traze-lo de volta. Banhou o corpo dele com suas lágrimas e fechou os olhos dele lentamente como um sinal de despedida.
  Retirou das costa dele a mochila e percebeu que nela havia um punhal, quando o retirou da sua bainha ouviu ao longe um latido que rapidamente se aproximou, ela olhou para trás viu uma tocha acesa e ouviu uma voz, grave como um trovão, um homem que tinha a pele negra como a noite, seus olhos brilhavam como duas estrelas, antes que ele pudesse fazer algo ela enfiou o punhal contra seu peito.
  O homem correu o mais rápido que pode junto de seu animal que ainda latia, ao chegar lá viu o Amado da moça que já não tinha volta, assim virou-se para ela tomou-a em seu braços tentou retirar o punhal, tentava estancar o sangue que não parava de jorrar.
  Driblando as pedras do abismo, como quem tenta não enxergar a realidade o homem a levou para sua cabana, ele morava lá já a algum tempo, conhecia todos os atalhos, tinha a melhor das intenções, ficou profundamente encantado com a beleza da moça e não queria deixar perde-la . Não havia necessidade de tal ação mas ele não podia evitar era movido por um sentimento que ainda não conhecia.
  Enquanto ele tentava tratar o ferimento dela uma súbita desilusão tomou seu coração, como o sangue dela escorria entre os dedos dele a alma escorria do corpo dela e não havia nada a ser feito. E o sol surgiu no horizonte.

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