Janela e luminária

quinta-feira, outubro 20, 2011

    Eramos vizinhos, ele se mudou ainda esse semestre, sua janela se abria frente a minha, todas as manhãs,  todas as tardes,  todas as noites, todo e todo o sempre, eu passava por lá e o via.. me sentia vigiada, meio que incomodada.. minha cama fica  em frente a  minha janela. ele tinha uma luminária que mais parecia um holofote em cima da escrivaninha que ficava em frente a janela dele..
   Sempre gostei de dormir com a janela aberta, um hábito de anos e anos.. Compartilhado não só por mim..
Adorava a disposição dos moveis no meu quarto, meu perfeccionismo não permitiria que eu os mudasse de lugar.
    Então eu o odiava por deixar a luz acessa anoite inteira na minha cara e me fazer dormir de janela fechada, nos últimos meses. Ele não tinha um horário,  não fechava a janela também, por mais que eu fugisse da rotina, ainda o encontrava com seu holofote nas noites que eu mais queria descansar na obscuridade noturna.
    Me sentia vigiada mas nunca o vi olhando para fora ou para mim, apenas sentado em sua escrivaninha lendo. Noite pós noite. Já não aguentava o forno que meu quarto se tornou, plena madrugada, abro a janela e a luz estava apagada, ele com os braços apoiados sobre o parapeito da janela e o olhar distante. Parei por alguns minutos.
    Um súbito 'Oi!' quebrou meu encanto, dialogamos madrugada a fora. A primeira vez que te odiei foi quando passei a te amar.. Me  irritava suas teorias e seu egocentrismo.. mas me admirava sua desenvoltura  e seu falar.. Sentia a necessidade de ter a cota diária de irritação.
    Ao invés de janelas fechada e luz acessa, passamos a janelas abertas e luz apagada, o dialogo que ele buscava nos livros que lia sentado em sua escrivaninha tinha encontrado logo ao lado. Mas valia me irritar falando com ele do que o odiando por não me deixar dormir bem.
    Meu perfeccionismo cedeu, mudei a cama de lugar, já não me sentia vigiada, inda o procurava pra ver se poderíamos nos falar mais, mas ele não iria ficar lá por muito tempo, já estava de mudança de novo.

   A luminária não mais se acendeu, a janela não mais abriu, agora sou eu quem fica acordada lendo os livros que ele me deixou.

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